quarta-feira, 2 de junho de 2010

Foi necessário “Ricky Seabra” vir a Teresina dizer que precisava me libertar!!!

Foi necessário “Ricky Seabra” vir a Teresina dizer que precisava me libertar!!!

Foi mais ou menos assim que me sentir depois de mostrar um exercício pros colaboradores no ultimo sábado. Isso teve inicio no dia anterior, depois de uma breve “DR” entre os colaboradores onde coloquei da necessidade que tenho de me mover e de fazer algo mais corporal. Durante dois anos venho de molho com relação a essa vontade de dançar e também a forma como a dança contemporânea vem lutando contra o movimento estruturado, pesquisado e ensaiado. Essa discussão ocorreu no começo de mais um dia de trabalho e deu uma discussão boa. Eu propus que tivéssemos uma pratica corporal diária como forma de concentrar as mentes e conectarmos para o trabalho. Alguns achavam desnecessários essa prática e que essa necessidade poderia ser suprida em outros momentos mais isolados e não àquelas horas dedicadas ao colaboratório.

O certo é que isso me levou mais tarde a uma nova conversa com Ricky, falei pra ele que sentia muita vontade de dança e que aqui vinha me sentindo sufocado pela “não dança”, que é uma tendência da atualidade, a dança que não é exatamente dança, ou que não pode ser elaborada de forma sistemática. Venho ha muito tempo sentido uma tendência muito grande nacionalmente, pois venho participando de muitos festivais pelo Brasil e vejo que tem sido padrão, trabalhos cada vez mais padronizados, isso me deixa muito intrigado e quero correr contra isso, preciso nadar contra corrente. Ouvi dele com um leve sorriso: Dance! Mova-se! Quem sabe vc não seja a pessoa que dança? Isso me soou tão bem, foram as palavras que precisava para libertação. Desde o começo do Colaboratório 2010 vinha sem me achar definitivamente em nenhuma das propostas, não conseguia me enquadrar muito bem nos “grupos”, até me identifiquei um pouco com grupo do “Discurso” (Junior, Gimena, Darwin e Jasmim) mais ainda faltava algo. O certo é que só agora pude realmente me tocar pra questão da dança na minha vida, do meu relacionamento com a dança, dos movimentos primários instalados no meu corpo. Ricky também me disse pra falar de nós, que tinha curiosidade de conhecer nossa história com a dança, interessa muito a ele nosso indivíduo, nossa origem. Mostrei então no sábado um apanhado da minha história com a dança que começou em Amarante minha terra natal que fica a 164km de Teresina onde morei até 19 anos.

Na infância tive a influencia da Xuxa, pois como minha mãe trabalhava pela manhã eu ficava sozinho e fui praticamente educado por ela. A dança do “passarinho quer dançar” foi o primeiro contato com algo estruturado eu tinha seis anos e me apresentei na festa das mães, nesse processo descobri o fascínio pelo figurino e o prazer de está em cena, alguns anos depois veio a lambada, dançava com as amigas da rua que morava, depois tive a influencia das danças populares como Cavalo Piancó e Danças Portuguesas que eu danço desde os 13 anos de idade. Na adolescência as minhas influencias foram os vídeos clipes de Madonna e Michael Jackson ou qualquer outro que dançasse. No Brasil amava e copiava Daniela Mercury e sempre quis ser uma “paquita” eu era tão impressionado com a Xuxa que certa vez sonhei com ela pousando sua nave no telhado da minha casa... Na época tinha uma vizinha que adorava botar a radiola para tocar e me chamava para dançar, eu me jogava e fazia um show que todos admiravam, era ai também que fazíamos muitas criações, ouvíamos de tudo, de Kaoma a Madonna, passando por Beto Barbosa, Daniela Mercury e RPM, foi realmente um período de fatura criativa, podia ter ali um espaço adequado para realizar minha dança. Na época minha cidade tinha forte atividade cultural, semana de cultura, aula de teatro, dança e musica, me lembro de na época fazer praticamente tudo que a cidade oferecia. Foi com as quadrilhas juninas que pude começar a viajar e ampliar meus horizontes, era certo já nessa época com dezesseis ou dezessete anos a certeza de querer me dedicar à dança como profissão.

Com minha mudança pra Teresina, com dezenove anos, tive a primeira aula de balé, dança folclórica. Comecei a freqüentar as boates, a noite da capital. As primeiras aulas de dança com grandes nomes da dança piauiense com Frank Lauro, Sidh ribeiro, Luzia Amélia, as dificuldade da época, dançar em qualquer lugar, de chão sujo ou espaço insuficiente, a rotina de companhias como Balé Folclórico de Teresina me saciava toda aquela energia de dança eu tinha uma ânsia de correr atrás do tempo “perdido” foi nessa época também que comecei a desenvolver mais meu lado criador, quando junto com o Balé Folclórico de Teresina montamos a coreografia “A dança do calango” que representa pra mim o primeiro contato com a dança contemporânea, uma dança que questionava e que dava espaço para criação dos interpretes, foi muito importante ter participado desse processo, lá fiquei por cinco anos sendo que no ano de dois mil, crie junto com os amigos Luis Carlos Vale e Elizabeth Battali a Cia. Equilíbrio de Dança.

Essa residência com Ricky tem sido muito importante, pois tem nos dado oportunidade de reconhecer nossas motivações primeiras e também nos feito valorizar nossas formações mais espontâneas e menos acadêmicas, é incrível como muitas vezes sufocamos nossas raízes e deixamos de lado o que temos de mais originais e autênticos. Somos seres únicos e estamos sempre buscando ser padrão, estamos sempre atrás do que está em alta e valorizando o que nos é externo, precisamos muitas vezes apenas nos voltar pra dentro e encontrar ali muita coisa inovadora, muitos impulsos primários que só precisam de uma oportunidade para se manifestar. Agora com essa questão posta à mesa começamos então a esboçar um trabalho muito rico, cheio de descobertas e liberdades, foi realmente um estalo criativo que vem aos poucos se expondo e mostrando um caminho fértil para todos colaboradores.

Valdemar Santos, Teresina 02 de junho de 2010.

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