quinta-feira, 27 de maio de 2010

Amarante nossa de cada dia...




Iniciei nesse fim de semana passado (22,23/05) um projeto que pretende fazer a remontagem do Espetáculo "Amarante nossa de cada dia" um texto escrito por Josélia Soares e encenado pela Grupo de Teatro Amarantus, na década de noventa. O espetaculo na época teve muita repercussão e tinha a direção geral de Selma Bustamante que na época foi contratada pela Prefeitura para junto com o grupo produzir a peça. Eu era um dos integrantes do grupo no período e pude sentir de perto a grandiosidade da ação, hoje entendo melhor tudo e vejo a potência e importância do projeto e certamente foi crucial para muitas das minhas escolhas artísticas, foi depois desse trabalho que tive realmente a certeza que deveria continuar investindo na profissão e que era exatamente isso que queria para minha vida. Com o Grupo Amarantus pude viajar e apresentar por muitas vezes e lugares diferentes, também pude ter a maturidade de trabalhar em grupo o que trago até hoje comigo, a idéia de companheirismo de apoio e incentivo que são fundamentas para sustentar qualquer trabalho era sempre presente tanto que guardamos até hoje muito carinho e respeito mútuo.



Essa nova montagem é resultado disso, a convite da professora Selma Maria Alves, recebi o desafio de remontar com os alunos do ensino médio no colégio Polivalente em Amarante a peça, o que deixou muito feliz pois a muito tempo venho buscando formas de contribuir com a cultura amarantina da mesma forma que venho ao longo de 14 anos desenvolvendo em Teresina e outra cidades do Piauí e do Brasil, sempre tive muita dificuldade para desenvolver minhas ações por lá e encontrei nesse projeto essa possibilidade, além de revisitar um lugar muito importante artisticamente pra mim, que é a montagem desse espetaculo, é a possibilidade de desenvolver em minha terra natal um trabalho de qualidade que projete nossa arte.



Portanto nos dias 22 e 23 de maio, estive em Amarante para o primeiro encontro com os interessados em trabalhar, foi uma grande surpresa termos oitenta jovens disponíveis a trabalhar, todos com disposição e uma vontade de aprender e se relacionar com mundo por meio da arte. Foi um encontro muito descontraído, começamos nos apresentando de forma diferentes, todos precisavam falar nomes, uma coisa que esperava no trabalho e o que não gostaria de encontrar. Foram muitas respostas interessantes, era muito presente nos discursos dos alunos um tom de incentivo, e de comprometimento, "não desistir" foi uma das questões mais levantadas, tanto que nos levou a uma discussão sobre como andam suas escolhas e limites, isso deu ponta pé para novas discussões, falamos sobre a importância de se comprometer com trabalho, a seriedade que devemos ter quando nos colocamos disponíveis a trabalhar em grupo, e principalmente o compromisso com arte, com as pessoas e consigo mesmo.




Foi uma conversa muito proveitosa que levou toda manhã. Fechei a primeira parte com uma tarefa que fizemos na tarde em grupos com mais ou menos onze pessoas. O exercício era a leitura do texto, deixando aberto para os grupos a forma como isso aconteceria, isso fez com que surgisse muitas idéias de direção ou mesmo composição do personagem. Esse exercício serviu também para que os alunos tivessem o primeiro contato com o texto e entendessem bem o todo, pois me interessa muito que todos saibam bem do que fala o texto e que estejam conscientes do que estão fazendo. Isso ficou bem claro pois eles depois das leituras fizeram observações e perguntas muito interessantes. Nenhum deles conhecia o texto que fala de Amarante, traz questões históricas, artísticas, lendas e também muitas questões políticas, ficou claro a necessidade de atualizar o texto e já inclusive iniciamos esse processo, eu juntamente com Selma Maria Alves e Tuquinha começamos a esboçar essas mudanças que são mais no sentido de atualizar termos, direcionar melhor as questões políticas e na ordem das cenas.



Nosso próximo encontro ficou marcado para dia 05 de junho.

Valdemar Santos

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Colaboratório 2010
Seguimos de seis países e mais seis Estados brasileiros para o primeiro encontrão com todos artistas selecionados para o colaboratório 2010 que teve sua imersão, ou residência no SESC Praia em Luis Correia interior do Piauí, a cidade tem poucos habitantes em torno de 27 mil, sendo mais ocupada nos períodos de férias e grandes feriados ou festividades. O litoral do Piauí é de 66 km, tendo sua maior extensão em Luis Correia. Encontramos as praias desertas prontamente disponíveis aos colaboradores/artistas, foi uma excelente escolha do local. Na abertura fomos apresentados a Eduardo Bonito, que é coordenador do Festival Panorama e do Projeto Colaboratório desde 2006, ele se colocou feliz por ver o projeto bem representado, em fase de andamento, com pessoas de diferentes regiões do Brasil, diferentes nacionalidades e maturidade artística, ele explicou que essa aproximação de três semanas busca um ponto de partida para a criação em colaboração, serve também para dar base metodológica para todo processo que dura três semanas e tem como principal objetivo as criações em parceria que terão espaço para exibição dentro da programação oficial do Festival Panorama que vem há dez anos desenvolvendo um espaço que pense no desenvolvimento artístico e no mercado da dança com a inconstância de fundos. O festival segundo ele, nasceu como forma de contribuir na circulação da dança e fortalecer as relações pessoais entre os artistas ajudando na criação de redes. É importante ressaltar que o projeto Colaboratório não tem apoio nacional todas as parcerias são feitas por empresas estrangeiras.
Em seguidas fomos “entregues” a Christine Greiner, que é professora do departamento de linguagens do corpo da PUC-SP e é entre outras coisas autora do livro “O Corpo. Pistas para estudos indisciplinados”. De forma modesta ela fez uma breve apresentação e revelou sempre ter duvidas em relação sua colaboração, de como ela pode contribuir. Digo modesta porque no desenrolar do processo vimos que ela tem muito sim a contribuir. Ela nos apresentou uma programação de trabalho com base nos questionários que apresentamos no processo de seleção e de forma bem sistemática criamos a rotina de trabalho para a primeira semana, então acordamos que pelas manhãs teríamos uma parte de conversa um momento mais teórico e as tardes uma exposição dos trabalhos dos colaboradores, um exercício de como mostrar uma idéia na prática. Ela nos trouxe questões que foram levantadas em nossos questionários como: O animado verso inanimado, a presença cênica, o gênero, o ativismo cultural, narrativa visual e tecnologia; outro ponto importante se refere à relação da dança com a performatividade a partir de determinados impulsos como a presença e o corpo presente.
Falamos também da consciência e percepção, a questão do percurso cotidiano, um estado de automatização em que somos obrigados a viver, ou seja, o estado de não perceber as pessoas nas ruas, como uma espécie de dormência da percepção, o cheiro, o toque, os incômodos a análise do outro entre outras questões que nos trona a cada dia mais automáticos. Nosso corpo não é só o lugar onde as coisas falam, mais, espaço onde a coisa acontece, em vez de rodear entre corpo e mente é melhor falar de corpo ecológico, corpo com antenas que estão em completa conexão com o meio, corpo como mídia primeira da comunicação, como algo que agi, possibilitando ações. Entender o movimento como nosso sexto sentido sendo objeto que dá “liga aos outros cinco sentidos”. Antes das ações existirem o corpo faz ações internas e o movimento está sempre presente na ação, o pensar é movimento. A emoção é física mais o sentimento é intimo. Existem maneiras diferentes de olhar e experimentar o corpo e a dança, o movimento vem como uma lógica do pensamento. Depois de quase 30 horas de trabalhos e translado, um banho de mar fez muito bem aos corpos. Antes de dormir depois do primeiro dia de trabalho, dei uma lida na apresentação e no inicio do primeiro capitulo do livro da Christine onde, aponta um recorte geral e preciso sobre os estudos do corpo. O fato de existirem muitos títulos que tem o “corpo” como tema central o que facilita o estudo no Brasil e pode também dificulta algumas escolhas, o livro de Christine pretende auxiliar aos que iniciam seus estudos sobre corpo. É mesmo um livro conciso e repleto de referencias atualizadas que inclusive preciso reler amanhã. Realmente Christine nos trouxe questões sustentáveis e que certamente serviram de embasamento para nossos desdobramentos. Falamos muito, com ela foram longas e proveitosa conversas, era como ela mesma falava “muito trabalho físico, pois pensar é uma ação inevitavelmente física” o dia acabava e estávamos tombados de cansaço ficávamos o dia inteiro apresentando alguns trabalho e depois conversando e analisando tudo, sempre tínhamos o momento da troca de sensações, era uma forma diferente de nós relacionarmos e dessa forma iniciar as primeiras conexões o fato é que isso realmente aconteceu e foi ai que demos inicio as buscas de ligação e diferenciação, é importante saber o que queremos e que não queremos, é necessário entender nossas motivações atuais. Percebemos que as questões que estavam contidas no formulário de inscrição certamente se modificaram e isso é um fato, pois a mudança é movimento e está vivo é mudar um pouco a cada dia, a técnica na relação com ambiente que diferenciam, por exemplo, os corpos de pessoas que moram em cidade com rios têm vocabulário corporal bem distinto dos que moram em cidades em montanhas ou muito frias, isso serve pra entender um pouco que dependendo do ambiente que o individuo está inserido muitas coisas podem mudar e aquele ambiente nos abria outras perspectivas e motivações. Falamos também de jogo na dança. “Agon” é o jogo de competição que deve ter ambiente de igualdade de modo a dar um valor incontestável ao vencedor. “Allea” é tipo de jogo do destino é de onde vem a noção de aleatório, onde se vive no risco sendo lançado ao destino. “Mimetismo” é jogo de aceitação temporária de uma ilusão. “Vertigem-Ilinx” jogo que coloca em estado limite, cercado de situações de decisões. Discutimos também a “Representação” que segundo alguns estudiosos seu ato criam, distorção, desproporção, distinção, dissolução, dissecação. A representação pré pensa no olhar metamórfico e tem a pele como categoria primária da dor, essa metamorfose tem a ver com entendimento e movimento com micro movimentos que acontecem no estado corporal. No começo da história tinha-se a idéia de que na performance não se representava e sim apresentava o que hoje em dia é muito questionado, a semiótica é o estudo das representações, a representação nunca é algo isolado, ela passa por diversas outras ações e dessa forma está associada a tudo que se refere a gente. Representação no nível da percepção onde a vida não está isolada e sim fazendo parte de uma associação. A primeira semana com Christine acabou deixando espaço fértil para segunda, tivemos dois dias de folga o que deu pra repousar as informações e organizar melhor o bombardeio de informações, foi muito produtivo intelectualmente pois ela trás na bagagem um turbilhão de referencias que vou levar alguns anos pra conhecer melhor, foi ai também que demos inicio ao começo de novos processos, de entendimento e desentendimento.
Na segunda semana tivemos a colaboração de Jorge Alencar, e já tínhamos os nomes de todos os colaboradores decorados: Damares, Jasmin, Samuel, Jacob, Juliana, Cecília, Valdemar, Datan, Joubert, Junior, Cris, Himena, Patrícia, Léo, Vandré, Vitor, Cleide, Darwin e Agnaldo. Jorge se colocou disposto a receber indicações e informações dos andamentos até então, ele veio sem um cronograma pré-estabelecido mais tentando entender como pode colaborar no projeto. Primeiro ele quis um relato de como as coisas estão depois da semana Christine Greiner e a partir daí elabora a segunda semana entendendo-a como um processo importante no projeto. De fato foi uma semana muito importante, pois a forma descontraída e bem humorada trazida por Jorge deu espaço para que as conexões se efetivassem e assim pudéssemos dar um passo maior no direcionamento de nossos trabalhos nas colaborações. Isso de fato aconteceu a passagem dele nos deu uma afinação, nos sintonizou no caminho de definições necessárias para situar o entendimento de trabalho colaborativo, penetrar nesse caminho de entrega e escolhas, penetrando intensamente dentro da ação, a idéia como debate sobre dramaturgia e como lidar com as inquietações pessoas e levantar dentro desse caldeirão de idéias e egos. Como trabalhar em grupo sem deixar que idéias se percam pelo caminho? Que critérios de trabalho juntam as pessoas na busca por interesses comuns? Como ligar os pontos? Resposta para essas perguntas ainda não encontramos mais já consideramos grande vantagens elas terem surgido. A dissonância, o abandono, a reestruturação de prioridades, esse é um espaço onde preciso deixar um pouco de lado meus interesses pessoais em detrimento da idéia alheia, sem se perder na obscuridade absoluta, potencializando o nível de atenção dentro desse espírito de colaboração, além do acaso existem ligações onde a pessoa traz material para experimento dentro da estrutura de colaboração. Sobre escolhas, encaminhamento e organização dos elementos, percebemos que é preciso dar tempo as coisas, entender o trabalho com uma preocupação, ou atenção, no tempo de cada ação esse é o ponto chave do trabalho. O colaboratório tem sido espaço propício para a troca de informação, afetividade, conhecimento, de se apegar, de não entender muito bem, de comprometer-se. Estamos ligados por uma boa dose de entrega ao inesperado e a objetividade, é sem duvida uma grande experiência profissional.

Pra fechar as três semanas, nada melhor que Marcelo Evelin, depois de dois messes na Holanda ele vem direto cair no Colaboratório, nesse período as coisas já andavam bem estruturadas, as relações pessoais já tinham se estabelecido e ele encontrou um lugar extremamente descontraído, até por que vínhamos de três dias de folgas absolutas o que nos possibilitou um relação mais profunda. Chega ele em plana segunda com disposição pra trabalhar e com o grande desafio de concluir esse primeiro processo que é justamente o inicio de tudo. Como sempre muito bem articulado e observador ele nos propôs logo de cara que preparássemos um resumo do que tínhamos construído nessas duas semanas. Era um desafio lançado, tínhamos que mostrar em menos de duas horas o resultado de nossos intensos trabalhos, ele queria que colocássemos as questões que pretendemos desenvolver nas criações, foi meio desesperador, o fato de ter que “mostrar” deixou a todos estressados, uma sensação de estréia. Mais no fim foi muito produtivo e de fato as colocações que ele fez dos trabalhos nos levou a outro grau de entendimento. Foi crucial essa ação proposta por ele, ao final tínhamos mais dúvidas, isso foi importantíssimo, pois fez com que cada grupo pusesse realmente refletir sobre as suas questões. Os últimos dias foram então de afinação, conseguimos consolidar mais nossas idéias e afinar mais nossos ponteiros. Foi realmente com Marcelo que pudemos sentir que o trabalho tava indo pra uma direção certeira. Com ele também tivemos inumes conversas que varavam a noite o que acelerou muito a afinação entre os grupos. Fizemos nos dias seguintes uma série de mostras de processos e exercícios o que serviu para aproximar e definir um alinha de trabalho, mais sempre deixando claro que por se tratar de um processo artístico é portanto vulnerável a mudanças e certamente isso é fundamental, pois como vínhamos percebendo desde o começo do encontro as mudanças fazem parte da criação, ela é necessária para que construamos trabalhos fortes e coerentes. Foram muito ricas as dicas e sugestões de Marcelo, deu pra sentir o potencial criativo dos colaboradores e também serviu para que pudéssemos projetar nosso trabalho com foco no objetivo primordial que é criar em coletivo, um processo necessário dentro do projeto.
Por fim tivemos uma festa de despedida que aconteceu na casa de praia da família do Marcelo, foi uma festa aconchegante que teve coroação com um banho de mar e um céu repleto de estrelas, uma imagem merecida depois de tanto trabalho. O mais legal e que esse processo foi só o começo de uma grande estrada que será concluída em novembro no Panorama do Rio de Janeiro mais que antes tem algumas escalas com outras grandes colaborações.

Valdemar Santos, 20 de maio de 2010, Teresina, Piauí, Brasil.

sábado, 15 de maio de 2010

Colaboratório 2010

Seguimos de seis países e mais seis estados brasileiros para o primeiro encontrão com todos artistas selecionados para o colaboratório 2010 que teve sua 1ª imersão, (residência) em Luis Correia (PI) durante três semanas. O local de destino é o SESC Praia; a cidade com poucos habitantes em torno de 27 mil, sendo mais ocupada apenas nos períodos de férias. O litoral do Piauí é de 66 km, sua maior extensão em Luis Correia suas aguas lindas e quentes contribuíram para que o trabalho fosse mais prazeroso. Encontramos as praias desertas prontamente disponíveis aos colaboradores/artistas, foi uma excelente escolha do local. Na abertura fomos apresentados a Eduardo Bonito, que é coordenador do Festival Panorama e do Projeto Colaboratório desde 2006, ele se colocou feliz por ver o projeto bem representado, em fase de andamento, com pessoas de diferentes regiões do Brasil, diferentes nacionalidades e maturidade artística, ele explicou que essa aproximação de três semanas busca um ponto de partida para a criação em colaboração, serve também para dar base metodológica para todo processo que dura três semanas e tem como principal objetivo a criação em parceria que terão espaço para exibição dentro da programação oficial do Festival Panorama que há dez anos desenvolvendo um espaço que pense no desenvolvimento artístico e no mercado da dança carioca como a inconstância de fundos. Nasceu como forma de contribuir na circulação da dança e fortalecer as relações pessoais entre os artistas ajudando na criação de redes é importante ressaltar que o projeto não tem apoio nacional todas as parcerias são feitas por empresas estrangeiras.